Oi pai, espero que esteja tudo bem por aí, onde você estiver. Por aqui, tem sido dias difíceis. A pandemia continua, o Brasil tem alguns desafios a serem superados, e eu aprendendo a administrar a saudade que sinto de você.

Oi Pai!

Oi pai, espero que esteja tudo bem por aí, onde você estiver. Por aqui, tem sido dias difíceis. A pandemia continua, o Brasil tem alguns desafios a serem superados, e eu aprendendo a administrar a saudade que sinto de você.

Hoje completa um ano da sua ausência física e te digo, caramba como é dolorido! Pai, eu sempre temi a sua morte e da mãe. Mesmo sabendo, que nenhum de nós sairá vivo dessa vida, este medo sempre me atormentava. E quando a vida me convidou a transcender este medo, passando por ele, confesso que cheguei a pensar que não daria conta. Às vezes ainda penso que não darei, porém, tenho seguido, dia após dia.

Era quarta-feira, 03 de junho de 2020, por volta das nove e meia da manhã, quanto o telefone tocou e meu coração já me avisou: algo doído aconteceu. Era uma ligação de manhã, de alguém que não tem o hábito de ligar. Então, o coração já sinaliza, ops, aconteceu algo. Era a notícia que eu jamais queria ter ouvido. E dali por diante, parecia um pesadelo. Como estávamos fisicamente longe, você e a mãe em Minas Gerais, e nós, em São Paulo, quando começamos a viagem, era um mix de sentimentos e pensava comigo: quero chegar logo e ao mesmo tempo, não quero nunca chegar.

Foi a viagem mais apreensiva, demorada e triste da minha vida. As lembranças tomavam conta de mim, me invadiam sem pedir licença e fazia meu coração transbordar de amor, saudade, alegria, tristeza, medo, raiva e angústia. Uma mistura de tantos sentimentos, que não sei dar nome ao que senti. Chegar lá foi devastador para mim. Eu tinha tanto ainda para conversar com você, te ouvir, fazer perguntas, e que agora ficarão sem respostas. Tinha tantos abraços para te dar, e claro, tantos a receber. Você tinha o abraço mais apertado e carinhoso que alguém poderia receber. O sorriso mais leve, doce e totalmente acolhedor. Você sorria por inteiro. E às vezes, quando me pego sorrindo, por alguma lembrança, consigo ver o seu sorriso em mim. E aí, o sorriso fica ainda mais solto.

Atravessar este um ano, sem você fisicamente, tem me levado a me conhecer ainda mais. Tenho visitado lugares dentro de mim, que eu nem imaginava que existiam. O amor por escrever tem tomado conta de mim. Não sou poeta como você, mas sei que o escrever vem de você.

Tenho me conectado com tantas histórias nossas. Revisitando minha infância e lembrado de tudo o que vivemos. Você tinha um amor pela arte, seja para escrever poemas, compor músicas e até interpretar. Lembra, quando nos aventuramos em fazer a Escolinha do Professor Raimundo? Como foi divertido e engraçado. Você tinha uma alegria de viver, mesmo nos momentos de maiores dores, e olha que você passou por muitos e muitos. Acreditava em dias melhores, sempre sonhava com uma vida melhor para todos nós. E foi buscando por oportunidades de uma vida melhor, que chegamos a São Paulo. Nossa, quantas coisas vivemos pai! Vivemos tudo o que compõem uma vida, as dores e as delícias.

Eu quero hoje te agradecer por tudo e por tanto. Você sempre teve uma confiança em mim, desde criança, que às vezes eu tenho não em mim.

Sabe pai, além de aprender a lidar com a saudade e sua ausência, eu ainda preciso me reconciliar comigo mesma, e superar alguns arrependimentos. Foram falas não ditas, maneira que me comportei e que não foram legais, abraços que não dei. Enfim, algumas coisas que eu ainda queria e não foram possíveis. Também sei, que você, diria para mim: “Filhota, o pai te ama e não tem nada do que se arrepender.” É como se eu pudesse ouvi-lo dizer.

Confesso que ainda, de vez e quando, olho no celular para ver se não chega uma mensagem sua de bom dia. Vai que Deus se confundiu, e percebeu que você acabou indo cedo demais e te deixa voltar. Mas também sei que Deus tem escalado um time de primeira e faz todo sentido você estar nele. Assim, eu vou lidando com o fato de você não estar mais por aqui, fisicamente. Pois, em mim, você seguirá vivo, para sempre.

Pai, nós conversaremos sempre. Você tem visto o quanto eu falo com você, inclusive te pedindo para aguentar um pouquinho os meus dias de choro. Tem dias que as lágrimas vêm como uma avalanche e não dou conta de segurar. Depois alivia, e como o sol que saí depois de uma tempestade, o meu sorriso se faz presente, e as lembranças são de alegria, amor e gratidão pelos 41 anos de convivência com você.

E para encerramos por hoje, vou transcrever aqui, uma das mensagens que você me mandou:

“Enxugue as lágrimas da tristeza com lenço descartável e, jogue no oceano, ligue o botão da felicidade para que a luz da alegria brilhe em você!”. O pai te ama filhota!

Pai, eu sou a misturinha de vocês dois, metade você e metade a mãe! Obrigada pelo maior presente que eu poderia receber, a Vida.

Te Amo e seguimos juntos para sempre.